No coração do Seridó potiguar, um evento ganha cada vez mais importância ao unir ciência, tradição, preservação ambiental e história ancestral.
O XI Seminário de Meliponicultura do Rio Grande do Norte e o III Encontro de Meliponicultores do Seridó serão realizados no próximo sábado, 24 de maio, às margens do Açude Gargalheiras, em Acari/RN.
A escolha da data e do local não é casual — é resultado de uma sincronicidade que conecta o passado milenar da região com a urgência do presente em preservar as abelhas e os ecossistemas dos quais dependemos.
Nesse contexto, é impossível ignorar o alinhamento entre o local do evento, os registros históricos das abelhas na cultura ancestral do Seridó e a celebração internacional promovida pela ONU no Dia Mundial da Abelha, comemorado em 20 de maio.
As inscrições rupestres da área conhecida como Xique-Xique, no município de Carnaúba dos Dantas/RN — parte do território do Geoparque Seridó — revelam cenas de coleta de mel feitas por povos que habitaram a região há milhares de anos. O registro desse legado foi sistematizado no início do século XX pelo pesquisador seridoense José de Azevedo Dantas, que desenhou fielmente as pinturas e inscrições que encontrou nas paredes rochosas do Seridó.
Seu trabalho visionário chamou a atenção de estudiosos renomados como Niède Guidon e Gabriela Martin, que reconheceram o valor arqueológico e cultural desses registros, inclusive a emblemática cena dos “coletores de mel”.
Essas evidências não apenas comprovam a presença das abelhas na história humana, mas também servem como um chamado à responsabilidade coletiva com o futuro. O evento em Gargalheiras surge como um ato de continuidade — um elo entre os ancestrais que sobreviveram graças ao mel e os povos contemporâneos que dependem da polinização para manter os ecossistemas e a segurança alimentar.
Esse encontro está diretamente alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 15 da ONU, que visa “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres”. A preservação das abelhas nativas, especialmente as sem ferrão — foco da meliponicultura — é fundamental para manter a biodiversidade, fortalecer a agricultura familiar e promover práticas sustentáveis no semiárido.
Diante desse cenário, realizar um seminário sobre meliponicultura no Seridó não é apenas um evento técnico. É um manifesto em favor da vida, da memória, da natureza e da sincronicidade que une tudo isso. É reconhecer, mais uma vez, que o pequeno — como uma abelha — sustenta o grande: a vida no planeta.